Hélio Marcos Machado Graciosa

(Ex-Professor do CETUC, Ex-Presidente da Fundação CpqD)

Convidado e incentivado pelo Prof. Flávio para escrever um texto alusivo ao 50º aniversário do CETUC, solicitei detalhes da encomenda. Sobre que aspecto? O professor informou: “você escolhe”.

Pensei em escrever sobre a trajetória do CETUC. Seu pioneirismo e seus pioneiros, seu papel relevante na formação de talentos humanos, sua influência na criação e desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Telecomunicações etc. Todavia, para escrever tal texto, teria que me aprofundar em fatos, datas e nomes que não tenho de memória. Minha expectativa é que outros tenham realizado tal trabalho de forma a registrar as relevantes contribuições dessa instituição para o setor de telecomunicações.

Decidi, então, escrever sobre minha experiência pessoal com o CETUC e, assim, recorrer apenas às minhas próprias lembranças.

Decorria o ano de 1970, eu estava finalizando o curso de Engenharia Elétrica- Telecomunicações na PUC/RJ e tinha chegado o momento de ir em busca de um emprego. Iria me tornar um profissional e a vida de estudante estava por se encerrar. Era o que eu pensava! Posteriormente descobri que ela não termina nunca. Dado o dinamismo da área de telecomunicações, estamos sempre estudando e aprendendo se quisermos nos manter ativos na profissão.

Aquele ano, apesar da ditadura, foi bom para o país. Muitas obras de infraestrutura, Brasil tricampeão do mundo de futebol, Fluminense campeão brasileiro e as empresas operadoras de telecomunicações, em especial CTB e EMBRATEL, com planos de investimento arrojados, iam garimpar nas Universidades pessoas com formação na área. Naquela época não havia dificuldade para arranjar emprego. Tempo bom!

No entanto, por influência dos professores do CETUC ( José Paulo, Mauro, Panazio, Amilcar, Márcio…) , eu queria seguir a carreira de pesquisador e professor. Não estava motivado para trabalhar na operação de telecomunicações. Imaginava, na época, que a área de pesquisa e desenvolvimento era onde se concentravam os desafios e as maiores oportunidades de realizar inovações. Novamente me enganei! Em qualquer segmento do setor de telecomunicações há desafios para enfrentar e a necessidade de ideias novas para ultrapassá-los. Seja no planejamento, na contratação, na operação, na comercialização, na pesquisa, no desenvolvimento de produtos, no treinamento e no modelo de negócios há sempre enormes espaços para se inovar.

Quando o Prof. José Paulo me convidou para integrar a equipe do CETUC a partir de 1971, fiquei extremamente feliz.Era para trabalhar na área de Teoria de Comunicações. Eu adorava teoria! Aceitei de pronto.

Uma vez no CETUC, iniciei minha carreira de professor. É bom frisar que não havia doutores no CETUC (o Dr. Bahiana, um dos fundadores, já não estava mais lá) e também não havia doutorado no Brasil na área. Em para lelo fui cursando as matérias de pós-graduação e iniciando as pesquisas visando a confecção da tese de mestrado. Mas quem era o orientador na área de Teoria de Comunicações? Não havia ninguém no CETUC e o orientador era o próprio Prof. José Paulo que cursava o MIT, nos USA, em busca de seu doutorado. E como era a interação? Por carta! Não existia email, whatapp, sms. Pois foi utilizando esse método que selecionamos ( o Prof. João Célio, meu colega de sala, também passou pelo mesmo processo) o tema da tese. O assunto era bastante teórico, uma matematiqueira espetacular. Eu achava o máximo! Havia muita programação (para a época!). Levávamos pilhas de cartões perfurados ao centro de processamento de dados da PUC e buscávamos o resultado no dia seguinte. Se errássemos um dígito, tínhamos que esperar mais um dia para realizar as análises.

Em dezembro de 1972 chegou a época de defender a tese. Estabelecida a banca e distribuída a minuta, um dos examinadores me telefonou e me informou que faria uma única pergunta: qual a aplicação prática do trabalho de tese? Faltava uma semana. Conversei com colegas, professores, busquei potenciais aplicações em outras áreas como geologia, nuclear…Bom… estou devendo esta resposta até hoje! Este fato me fez refletir bastante acerca das consequências daquilo que realizamos profissionalmente. As conversas e os debates que tínhamos no CETUC não se restringiam apenas ao escopo das aulas ou aos temas de pesquisa. Também trocávamos ideias e percepções sobre ética profissional, a importância do trabalho que realizávamos para o contexto brasileiro, o futuro do país etc. Foram discussões muito gratificantes.

Posteriormente fui convidado para participar de bancas examinadoras de teses de mestrado no CETUC onde os temas tinham sólida formulação teórica e análise de sua aplicação em problemas concretos de telecomunicações. Mais recentemente, tive a alegria de presenciar a defesa de tese de mestrado do meu filho Henrique, cujo orientador foi meu colega de turma Prof. Marbey, onde à formulação matemática seguiu-se uma análise aplicada ao planejamento técnico-econômico de redes ópticas.

No início de 1973 me desliguei do quadro de professores do CETUC. Convidado por um ex-integrante do Centro, Prof. Jorge Panazio, fui trabalhar no Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da TELEBRÁS, empresa recém-criada pelo governo federal com o objetivo de administrar os serviços públicos de telecomunicações no país. Nesse departamento iniciou-se um trabalho abrangente de fomentar a pesquisa e desenvolvimento no Brasil na área de telecomunicações, através, primeiramente, da contratação de projetos em grupos universitários brasileiros. Como centro de excelência o CETUC foi o primeiro a ser contratado. Posteriormente o modelo de fomento evoluiu para a criação de um centro de pesquisa e desenvolvimento (CPqD) e para a participação de empresas com o objetivo de levar ao mercado os resultados e as tecnologias desenvolvidas. Durante toda minha trajetória no CPqD mantive contatos profissionais com o CETUC , não só através dos projetos mas também com a participação da Prof. Marlene no Conselho Curador daquele Centro. Com a minha aposentadoria em junho último, cessaram os meus contatos profissionais. Mas a relação emocional continua para sempre.

Assim como nosso contato com pessoas e com o ambiente na nossa infância e adolescência nos marca e nos influencia durante toda a vida, eu diria que isto também acontece na carreira profissional. Decorridos mais de 40 anos de minha saída, constato que minha infância profissional foi vivida no CETUC. Lá encontrei seriedade de propósito, ética, importância do P&D , brasilidade e muito trabalho com alegria. Estes valores me guiam até hoje.

Obrigado CETUC! Salve seus 50 anos!