Weiler A. Finamore

(Diretor do CETUC, 1982-1984)

Em 1965 foi criado o CETUC — Centro de Estudos em Telecomunicações da Universidade Católica. Em 1965 iniciei, na PUC-Rio, a minha graduação. Lembro-me de ter ouvido falar o nome “CETUC” apenas em 1967, ao assistir a esperada primeira aula da disciplina Eletromagnetismo II. O nome do Professor desta disciplina, sabia-se, era “Bahiana”. Impossível pensar que o senso de tradição se sobreporia ao senso de humor e que nossas cabeças de estudantes primeiro associariam este nome a uma tradicional família (que empresta o nome a uma rua do Rio, a Rua Gastão Bahiana em Copacabana/Lagoa ). De fato a primeira associação, instigada pela irreverência do humor estudantil, foi ao nome da lendária vendedora de comida típica.

Entra em sala, sereno, silencioso, caminhando como se nada fosse capaz de perturbá-lo, o Professor Bahiana que, sem dizer uma única palavra, transforma a sala de aula, plena de jovens ruidosos, em uma sala de aula silenciosa, plena de estudantes atentos — atentos àquela figura que inspirava só reverência. Os ensinamentos deste professor abriram as janelas das telecomunicações para a minha carreira e as carreiras dos jovens colegas. Estas janelas descortinaram não só o mundo das telecomunicações, mas o mundo da academia, com instituições (MIT), símbolos (“Beaver Ring”), conhecimento (Tese de Doutorado — a tese “Electromagnetig induction on an expanding sphere”, de 1964, é a Tese de Doutorado do Prof. Bahiana) e a ciência moderna (e a abstrata ideia, para nós, de fronteira do conhecimento) .

O CETUC que vi faz parte da história das telecomunicações do Brasil. Foi o celeiro que (juntamente com o IME, e o ITA) forneceu as principais cabeças que, trabalhando em empresas como EMBRATEL, TELEBRÁS, alavancaram as telecomunicaçoes no Brasil. Este CETUC, tem sua história alicerçada na história de um pequeno núcleo de visionários formado, principalmente, pelos seus primeiros diretores, Prof. Luiz Carlos Bahiana, Prof. Mauro Soares de Assis e Prof. José Paulo de Almeida e Albuquerque. A história se inicia com um Centro voltado não só para a formação de recursos humanos, em nível de graduação e mestrado, mas também voltado para a criação de competência para resolver problemas de interesse para o desenvolvimento das telecomunicações no Brasil — incentivado, no início, pelo CONTEL e, depois, pela recém criada TELEBRÁS. Sob a direção do José Paulo a formação de recursos humanos teve um salto, com a introdução da pesquisa em comunicações via satélite e implantação do curso de doutoramento.

As histórias de muitas outras pessoas e instituições se mesclam com a história do CETUC. Falo então, um pouco, sobre a minha história para falar um pouco mais sobre o CETUC. Em 1969 graduei-me e ingressei no curso de mestrado. No início de 1970, sem concluir o mestrado, fui para Belém do Pará, contratado como professor, para alavancar o curso de telecomunicações recém criado pelo Departamento de Engenharia Elétrica da UFPA — este curso (com sementes também do ITA) é um curso consolidado, com fortes raízes no CETUC. Em 1979, após cerca de 8 anos afastado, retornei ao CETUC onde chegavam também jovens professores, que acabavam de completar sua formação em universidades como Stanford, Southern California, Cornell, Imperial College, etc. Esta chegada coincidia com a chegada de conceitos novos como redes-de-comunicação, criptografia, e a entrada das telecomunicações na era digital. Vi o CETUC nesta ocasião avançar ainda mais a ideia humboltiana que alia o ensino e a pesquisa e vi intensificar-se a “busca da excelência”. A busca da excelência, uma ideia que permeava toda a PUC-Rio, ancorava-se na expansão da fronteira do conhecimento e clamava por mais pesquisa científica e publicações de resultados destas pesquisas. Ecos do “publish or perish”, mola mestra do sistema acadêmico norte-americano, alcançava o sistema acadêmico brasileiro e urgia que os centros de pesquisa rumassem nesta a direção. A valorização da pesquisa era um fenômeno que acontecia em vários centros de pesquisa universitários e se externou, na área de telecomunicações, como uma manifestação coletiva, com a fundação da Sociedade Brasileira de Telecomunicações — que teve em José Roberto Boisson de Marca seu primeiro presidente. A discussão em torno to tema “pesquisa versus desenvolvimento”, intensificada no início dos anos 80, marcou o tom da disputa pelo cargo de Diretor do CETUC que ficaria vago com a ida do José Paulo, temporariamente, para o COMSAT. Apesar da opinião dominante tender para a priorização da pesquisa, havia divergências com relação à velocidade com que esta prioridade deveria ser adotada. Em clima de opinião dividida disputamos, o Boisson e eu, a direção do CETUC. Eu que representava o grupo que entendia ser desejável uma transição mais lenta, de um CETUC com perfil mais voltado para o desenvolvimento e as demandas da TELEBRAS (o principal patrocinador do CETUC naquele momento), para um CETUC fortemente dedicado à pesquisa e ao avanço da fronteira do conhecimento, fui escohido — em 1982 tive o privilégio de assumir a direção do CETUC. Senti-me realizado por primeiramente, e com a ajuda do José Mauro Pedro Fortes, ter buscado as condições para, concretizando uma desejada reforma no espaço físico do CETUC, melhorar as condições de espaço físico para o trabalho do grupo. E também satisfeito por ter dado continuidade à valorização do perfil do CETUC como um centro mais comprometido com a pesquisa e a inovação. Arrependo-me no entanto, de ter vencido aquela disputa — hoje, distanciado daquele tempo, sou de opinião que uma transição mais rápida, como a defendida pelo Boisson, seria mais adequada.

Em 1984 encerrei o meu mandato como diretor do CETUC, que fora iniciado em 1982. A continuação desta história, que coincide com a história de muitas outras pessoas, tenho certeza, pode ser melhor contada pela Marlene Sabino Pontes, Luis Costa da Silva e Flávio José Vieira Hasselmann, responsáveis pela direção do CETUC nos anos seguintes.

Em 2012 aposentei-me. Mas não perdi de vista o CETUC. Hoje vejo um CETUC que necessita urgentemente de uma estratégia de renovação. Este Centro que acompanha o desenvolvimento tecnológico da área de telecomunicações, transmite e gera conhecimento, é muito importante pela sua competência e tradição. Tenho certeza que a PUC-Rio, nossa alma-mater, está atenta, hoje na pessoa do nosso Magnífico Reitor, Padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., com sua visão e sabedoria, ao enorme potencial e a grande importância deste legado que é o CETUC.